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quinta-feira, 29 de abril de 2010

A FLORESTA FIXA CARBONO

ARTIGO DO AUTOR : JOSÉ ARANHA


O aquecimento global é o resultado de três factores chave: as alterações climáticas, a crescente emissão, para a atmosfera, de gases com efeito de estufa e os actuais padrões de conforto e consumo dos habitantes dos países mais desenvolvidos...


Há um milhão de hectares de espaços degradados em Portugal que poderiam ser transformados em novas florestas. Isso compensaria emissões de gases com efeito estufa e mitigaria os seus efeitos em termos de aquecimento global.

O aquecimento global é o resultado de três factores chave: as alterações climáticas, a crescente emissão, para a atmosfera, de gases com efeito de estufa e os actuais padrões de conforto e consumo dos habitantes dos países mais desenvolvidos.

Este desenvolvimento e este consumo levaram à destruição dos espaços florestais e, consequentemente, à eliminação de factores naturais de fixação de gases com efeito de estufa, como o azoto (ex. óxido nitroso) e o carbono (dióxido de carbono, metano, etc.).

Os espaços florestais, através da vegetação (árvores e arbustos lenhosos) e dos solos, permitem fixar enormes quantidades de azoto e de carbono, contribuindo para a mitigação do efeito de estufa causado por estes gases.

Em termos muito gerais, pode-se dividir uma árvore em duas metades, as raízes e a parte aérea (tronco, ramos e folhas) e considerar que cerca de 50% do peso seco de uma árvore é constituído por carbono. Assim, a cada tonelada de madeira (tronco e ramos) produzida corresponde uma tonelada de raízes o que significa a fixação de uma tonelada de carbono atmosférico. O tempo de fixação deste carbono depende do destino dado à madeira. Se esta for cortada para queimar, o carbono volta a ser libertado. Se esta for usada para fazer móveis, o carbono fica retido muito tempo. No entanto, o carbono fixado pelas raízes (50%) fica enterrado no solo durante muito tempo.

Portugal continental dispõe de cerca de 2,5 milhões de hectares de espaço florestal ocupado com floresta adulta e de um milhão de hectares de espaços florestais degradados, que podem ser transformados em novas florestas, tanto de produção como de uso múltiplo, para protecção de solos, biodiversidade, recreio e lazer, etc. Em termos muito gerais, pode-se obter uma produção média entre 16 a 22 t/ha ano, relativamente a madeira de eucalipto (E. globulus) e de 8 a 12 t/ha ano, relativamente a madeira de pinheiro bravo (P. pinaster), o que corresponde, no mínimo, à fixação de 8 t/ha ano (incluindo as raízes) de carbono atmosférico. Como foi anteriormente referido, a parte aérea (troncos e ramos) será processada e, consequentemente, voltará a libertar o carbono. Já a parte radicular fixará o carbono por muitos anos, podendo os solos florestais de Portugal continental fazê-lo até 150 t/ha de carbono.

Portugal continental dispõe de cerca de um milhão de hectares para a criação de florestas fixadoras de carbono atmosférico (ex. dióxido de carbono), que poderia utilizar para compensar as suas emissões de gases com efeito estufa e, assim, mitigar os seus efeitos em termos de aquecimento global.

As zonas com menor declive e melhores acessos poderiam ser utilizadas para a criação de florestas de produção de biomassa, para ser por exemplo queimada em centrais termoeléctricas, para produção de energia eléctrica, ou transformada em "pellets" (pequenos cilindros de serrim prensado) para queimar em recuperadores de calor para aquecimento. Este processo, ainda que promova a rápida circulação do carbono (fixado da atmosfera e novamente libertado em ciclos de 3 a 5 anos), seria sempre menos poluente do que a queima de combustíveis fósseis (carbono fixado da atmosfera há milhões de anos e libertado na actualidade). O balanço de carbono também seria sempre positivo, uma vez que só se corta a parte aérea da árvore e as raízes, ao ficarem no solo, fixam o carbono por muito tempo.

As zonas com maior declive e piores acessos poderiam ser utilizadas para a criação de florestas de uso múltiplo (protecção ambiental, biodiversidade, recreio e laser, recuperação paisagística, etc.). Desta forma, o carbono atmosférico poderia ser fixado por muitos anos. Estas florestas poderiam ser utilizadas como bancos de carbono e negociadas como áreas de compensação de locais, onde a emissão de gases com efeito estufa é inevitável e não se pode criar florestas.

Uma vantagem adicional, da criação destes bancos de carbono, seria a promoção de postos de trabalho nas zonas rurais e limpeza das florestas, com a consequente diminuição do êxodo rural e do perigo de incêndio florestal.

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